Minha rainha Olhai por nós

Minha rainha Olhai por nós
Oxum sempre foi mulher vaidosa, bela e elegante ofuscava a todos com seu brilho vistoso. Uma coisa, porém fazia-lhe falta, queria muito saber sobre os mistérios de Ifá. Tinha sede do conhecimento dos oráculos, precisava conhecer o passado, presente e futuro, somente assim se sentiria realizada. Pensou bastante a respeito e resolveu procurar Exu, usou toda sua doçura e encanto para que ele lhe ensinasse os segredos. Exu sentiu-se atraído pela bela mulher, mas não era de entregar nada gratuitamente e lhe propôs um trato. Se ela ficasse junto dele por sete anos fazendo todos os serviços de sua casa, entregaria os mistérios que ela tanto desejava. Oxum aceitou e durante todo o tempo do trato, lavou, passou e cozinhou para Exu. No final do período tratado, Exu cumpriu o que havia prometido e liberou-a. A moça, entretanto havia se apaixonado e mesmo com os segredos em mãos preferiu continuar morando com ele. Assim viveram por muito tempo em perfeita harmonia. Um dia Oxum estava à beira de um rio cantando com maviosa voz enquanto penteava os cabelos. Xangô, que por ali passava, escondeu-se para ver de onde vinha tão maravilhosa melodia. Ao deparar-se com a beleza encantadora da bela mulher enamorou-se perdidamente. Impetuoso como sempre, foi até ela e declarou-se. Ela, porém, explicando sua condição de casada e feliz, recusou o amor que o homem dizia sentir. Tomado de fúria, não admitia ser contrariado, agarrou a mulher e levou-a para seu reino onde a trancafiou no alto de uma torre de onde somente sairia para unir-se a ele. Dias e noites sem fim se passaram e Oxum em sua masmorra apenas chorava em desespero. Enquanto isso, Exu vasculhava por todos os cantos do mundo a procura da mulher que aprendera a amar e respeitar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

EU PERGUNTO VOCÊ RESPONDE?



PERGUNTAS
Ø A Cabinda nasceu com Waldemar?
Ø Quem é Kamuká?
Ø Se dá cabeça pra Kamuká?
Ø Elégbah é de Cabinda?
Ø Cultua-se hoje como na época de Waldemar?
Ø Como é a feitura de um Kamuká?
Ø Kamuká é Orixá de Salão?
Ø Porque vemos casas Cabinda diferentes?
Ø Qual ligação de Cabinda e do Igbaleh?
Ø Como são as obrigações de Cabinda?
Ø Diferenças de Cabinda e outras nações?
 TODAS AS SUAS DUVIDAS SERÃO RESPONDIDA LIGUE:91082396/32355863,POVODOAXEFM.BLOGSPOT.COM

KAO CABELECILE= O REI ESTA NA TERRA

XANGÔ

Xangô senhor da justiça. É um rei que cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça, determinando o que certo e o que é errado e sua disposição inabalavelmente imparcial, visando acima de tudo a verdade. Representa a autoridade constituída no panteão africano. É uma figura sólida, tanto por esse papel como pelo elemento que a ele é associado, a pedra. Isso, porém, não pode ser usado como indicador da supremacia de Xangô - tal coisa não existe no mundo dos Orixás. Todos parecem ter poder equivalente e, é certo que nenhum Orixá tem mais poderes que o outro e que cada um, dentro de sua especialidade, é o mais poderoso.
Xangô é íntegro, indivisível; com tudo isso, é evidente que um certo autoritarismo faça parte de sua figura. É o Orixá que decide sobre o bem e o mal, possui capacidade de inspirar a aceitação inconteste de suas decisões, pela sua retidão e honestidade quase inquebrantáveis.

Os falangeiros de XANGÔ quando incorporam emitem um brado gutural prolongado (Rulll!!!) e simulam chocar pedras ao peito, batendo com a mão fechada no mesmo. Alguns incorporam de pé, outros ajoelhados.

História do negro Danilo

Aconheciam sua história e feitura e os longos anos de dedicação e aprendizado dentro do batuque sabia, ele era um dos mais importantes filhos de santo de mãe Chininha de Yansã. Dentro da lista dos nomes mais fundamentados da nação Oió, ele era considerado um dos herdeiros dos fundamentos.
Mas, o que o tornara famoso no meio da batuqueirada não fora seu Orixá, Ogum Onira, mas a fama de ser espiritado. Aqui para quem não é do batuque uma pequena explicação: espiritado é a pessoa que vive enxergando coisa dos espíritos. Coisa que convenhamos o povo do batuque dispara léguas de campo, temendo este tipo de maluco e suas elucubrações.
Mas, dizer o quê! Falar o quê? Quando o negro Danilo de Ogum era considerado um ícone da cultura e religião africana! Resta-nos ter que agüentar calado, ou como diria meu irmão Roberto de Ossanhã: “Agüenta! Agüenta firme, Deodé, um dia ele cansa”. E todos nós esperávamos que um dia ele parasse com aquelas adivinhações e percepções doentias, somadas às mensagens ocultas e subliminares.  Até sua mãe de santo segurava no osso do peito, as enxergações e visões do mundo dos Orixás explanadas pelo negro Danilo de Ogum. Antecipo que somente ele detinha este poder mágico entre seus irmãos de santo. Mesmo que todas estas histórias fossem de doer na alma dos viventes.
Na época, o negro Danilo trabalhava na C.R.T (Companhia Riograndense de Telecomunicação), recebia um bom ordenado, e vivia com uma certa abundância em sua qualidade de vida. Independente disso, sua companheira trabalhava no INPS, no cargo de secretária. Somado, os dois salários dava para criar e educar as duas crianças e viver abastado. Boa casa, bom trabalho, e uma fusca na garagem a lhe outorgar o título de burguês da vila.
As tardes de sábado com o tempo livre, eu e meus irmãos de santo íamos visitá-lo, mas era só passar o portão para ser recebido com a derradeira frase, capaz de derrubar elefante: “Bem que o teu pai Odé me avisou: meu filho virá ter contigo hoje à tarde”. Aquilo me punha louco de raiva, mas fazer o quê! Quando o negrão era só amor e gentileza, somada a isso, sua recepção aos irmãos do batuque era qualquer coisa de dar inveja. Deslumbrantes comensais, muita caipirinha, carne assada, maionese, tudo regado à cerveja gelada. Declinamos de corrigi-lo ou contrariá-lo e passávamos à cozinha para nos fartar e dar o devido desconto às visões quixotescas do negrão Danilo.
Ao som do pagode, aguardamos que fossem servidos as sobremesas, sagu com creme branco. Coisa de louco, tchê. O resto, bem, é o resto, deixa pra lá as percepções do negro Danilo de Ogum.
Às vezes a boca pequena e cochichos ao pé da orelha ele não perdia a oportunidade de confirmar algumas de suas previsões: -Eu não te disse Deodé, que a negra Isaura de Oxum ia se amancebar com o negro Armando de Xangô. Eu cá com meus botões pensava: Sei lá quem é essa tal de negra Isaura de Oxum e o tal de negro Armando de Xangô. Mesmo assim confirmava, balançando a cabeça, embora desconhecendo seu vaticínio anterior. Não podia me dar ao luxo de perder aquela boquinha. E tome-lhe cerveja gelada, a rega-bofe.
Nas noites de serões e obrigações tínhamos que ter muita paciência com aquela mala sem alça e suas frases despudoradas, soltas em hora imprópria: -Olha Deodé, aquele galo vermelho, (já apontando para o pobre bichinho), o Bará Ajelú não vai aceitar, o filho dele deu de má vontade. Ou outra mais atrevida: Aquela negra deu ares de conhecimento dos fundamentos dentro do quarto de santo, por isso a Oxum não vai chegar, o Zé não vai aparecer, tá em dívida com seu Orixá. E por aí se seguiam suas previsões e adivinhações. Mas o pior é que tudo que aquela boca maldita vaticinava acabava por acontecer, o galo na hora do corte saltou pela janela e se foi a rua e, para completar na reza da Oxum o tamboreiro se rasgou de cantar e nada da Oxum aparecer, quer mais? E pelo Zé estamos até hoje esperando.
Alguns irmãos de santo até disparavam do negrão, tinham medo de suas visões e previsões, outros até caçoavam de seus contatos imediatos de primeiro grau com o mundo dos Orixás. Independente disso tinha dias que ele abria a bateria de sinais, avisos e advertência e matraqueava mundo afora o poder de destruir ou enaltecer alguns fatos, ou alguma personalidade de destaque nacional do meio religioso, bem como político ou empresarial, artístico e futebolístico. E tome-lhe aviso e mais aviso, parecia uma metralhadora disparando para todos os lados, do tipo: O jogador tal não vai ser convocado para a seleção brasileira de futebol. O ator tal vai ser dispensado da novela da Rede Globo, o Silvio Santos vai errar no qual é a música. E por aí se seguia a grande viagem de disparates e chistes das percepções dos Orixás, aquela língua de trapo passava a tarde de domingo em frente da televisão a detonar os célebres e nobres da mídia eletrônica televisiva.
Teve uma vez que ele insistiu tanto em uma previsão macabra que ela aconteceu da noite para o dia: um famoso jogador de futebol se apegou de doença desconhecida. Agora vem a parte principal: com os axés do negro Danilo o rapaz obteve a cura e voltou a correr pelos gramados do país.
Numa outra oportunidade em um batuque no Morro da Cruz logo após a balança ele me chama para a rua e solicitou-me: - Deodé, volta lá no salão e observa o Ogum do compadre Zeca. Fui e depois de longo período observando a dança do Orixá do compadre Zeca. Voltei e relatei que nada vi de interessante ou anormal que merecesse destaque, seja ele positivo ou negativo.
-Mas como, Deodé! Tu não viste que o Ogum está triste?
-Não, não vi isso que tu estás afirmando. Foi quando ele vaticinou:
-O compadre Zeca tem pouco tempo de vida, com aquela dança, o Ogum já está se despedindo. Meu Deus! Este negro enlouqueceu? Aquilo me irritou, este infeliz já foi longe demais, deu para enxergar coisas até na cabeça dos Orixás.
Tempo depois a notícia explode na vila: O compadre Zeca de Ogum cufou. Não dei o braço a torcer, pensei: isso é mera coincidência. Mas sabia que não era, ele acertara na mosca. Como... Sei lá! Mas, que aquele exu preto tinha realmente o poder e a magia de falar com os Orixás e decodificar suas percepções, isso ele tinha. Benza a Deus! Mas, o povo maldoso caçoava do falastrão chamando-o de espiritado, visionário, enfim maluco de cara limpa.
Em outra ocasião, Batuque no Morro da Cruz, casa de pai Adão do Bará Ajelú, festa rolando, beleza pura. Eu solto das patas dançava mais faceiro que burro no azevém. Não é que o negrão teve o despautério de me sacar da roda, me pegar pela mão e com um grito de comando dizer. “Vamos, Deodé que a merda vai pegar no tamanco”. Fui furioso, onde já se viu sair de uma festa sem se despedir! E fomos pelos becos e vielas, em correria desenfreada morro abaixo, parecia que fugíamos da policia. Cansado de tanta pressa sem saber o motivo estanquei de vez e exigi uma explicação. – Tche negrão, o que é que te deu desta vez? O que é que tu viste para sairmos feitos loucos do Batuque do negro Adão do Bará Ajelú?
-Deodé aquilo vai terminar a bala, os desafetos do negrão chamaram a polícia.
-Mas como tu sabes disso?
-O teu pai Odé que me avisou e pediu para eu te tirar de lá, pois tu és metido a besta e ias apanhar também.
-Agora chega, negro desgraçado. Deu pra ti, tu não respeita nem o meu Orixá. E completei: Vai a merda negro filho da puta, me respeita. E saí fora e deixei o negrão conversando sozinho, era um basta, tô cheio destas baboseiras, chega, deu pra ti. Me mandei.
No outro dia à tardinha eu soube que a merda tinha pegado no tamanco, o Batuque havia terminado a tiros, afora os feridos, a polícia fechou o morro. Que baita demanda, coisa forte, quizila das boas, feitiçaria da grossa, macumbaria tremenda. E agora José, dizer o quê! Fazer o quê? À noite baixei a crista, pus a cola no meio das pernas e fui pedir desculpas ao negro Danilo, total ele tinha me tirado de uma enrascada.
O pior era ter que agüentar a gabolice do negrão. Recebeu-me com ares de pouco caso e ainda por cima com jactância e orgulho ele me passou uma reprimenda. - “Tu tens que ouvir mais o teu orixá e obedecer, coisa que tu burro e teimoso não faz”. Agora eu me pergunto: Pode, ter que agüentar estas gabolices? Tem quem não acredite. Azar. Daquela data em diante passei a acreditar.
O negrão deu uma melhorada de vida e mudou-se da vila de mala e cuia, foi morar em um apartamento na avenida Bento Gonçalves e perdi o contato.
Passados alguns anos fui a um batuque em Viamão e veja com quem eu dou de cara: ele, o negrão Danilo de Ogum. Continuava o mesmo, não mudara em nada, o mesmo visionário, o mesmo espiritado, sempre com seus prenúncios, avisos e advertências. Não me importei, gostava dele e nada me faria mudar de sentimentos, gente boa, a mais fina flor de amizade sincera.
Na volta percorremos junto o caminho de mais de 10 quilômetros entre a vila Santa Isabel em Viamão e a vila São José em Porto Alegre. Pelo caminho ele passou a me relatar o horror que sua vida se tornara. Havia sido abandonado pela mulher e o pior para ele, um machista de carteirinha, levar um par de chifres era o fim da picada. Abandonado pela mulher e os filhos, dera para beber, com isso perdera o emprego. Para viver, trabalhava de changueiro no porto à beira do cais descarregando navios de farelo e adubo. Meu Deus! Que horror se tornara à vida daquele vivente.
Naquela noite eu ouvi pela primeira a vez à frase que explodiu em minha mente: -Sabe Deodé eu estou comendo o meu prato de merda sozinho, não chamei ninguém para dividir comigo, mas sei que tudo isso tem seus dias contados para terminar, pois meu pai Ogum nunca me abandonou, ontem mesmo ele me apareceu e disse: “Quando tu não agüentares mais teu sofrimento, me chama eu virei te buscar”.
O que me surpreendeu foi que mesmo naquela miséria havia dignidade e respeito a seu Orixá, Ogum Onira, o amor e a cumplicidade e o companheirismo era a marca que os unia, ele não estava só, tinha seu orixá para lhe aconselhar. E quem era eu, um fedelho, um buri do Batuque, para orientar tão ilustre mestre no relacionamento com seu Orixá. Calei-me, mas no fundo de meu coração pedi pela misericórdia daquele Orixá: Não demore, meu pai Ogum, não demore, não deixa teu filho sofrer tanto assim.
Os amigos mais chegados o viram remexendo latas de lixo em busca de comida, e ainda comentavam de suas bebedeiras nos bares da volta do Mercado Público, quando aos gritos enfrentava os soldados da P.M: -Me respeitem seus filhos da puta, eu sou filho do comandante, do chefe  supremo da cavalaria, o guerreiro, o protetor da Brigada Militar. Desafiando os soldados a o enfrentarem. Brigava e levava surras de borrachas até ficar caído no chão. Ao saber destes atos de covardia, me punha louco de raiva, ainda mais me sentindo sem condições de poder fazer alguma coisa por ele.
Mas, em minha mente eu pensava: O que uma mulher pode fazer na vida de um homem? Assim como pode construí-lo, pode destruí-lo.
Uma noite de chuva fria, de inverno rigoroso quando o vento Minuano sopra na beira do rio Guaíba, eu corria para pegar o ônibus, no que fui impedido por um bêbado que me agarrou por trás, me virei e dei de cara com ele. Estava imundo e maltrapilho, bêbado de não poder se manter de pé estava mais para um pudim de cachaça. Ao me reconhecer se pegou aos gritos a todo os pulmões: Eis aqui meu irmãozinho Deodé, o filho do rei de Ketu, o filho do caçador, o menino do bodoque, o pai da fartura.
–Deodé, tu não vais deixar teu irmão com fome? Vai? Que baita cagaço ele me deu.
Abraçado ao pinguço entrei no primeiro boteco que encontrei na volta do mercado. Procurei uma cadeira e sentei o cristão e perguntei o que ele queria comer e beber.
 –Olha Deodé, quero comer um churrasco e uma cerveja em homenagem ao meu pai Ogum para comemorarmos nosso reencontro e o dia de hoje. E foi o que fizemos, mesmo que o português dono da bodega se negasse a fazer a tal carne assada, mas vendo o dinheiro, mais que depressa providenciou o pedido.
E ficamos a prosear por longas horas esquecidos que a noite chegara para ficar, tinha que voltar para casa e resolvi me despedir, foi quando ele disse:
-Deodé, me leva no Campo da Tuca.
-Não tem problema eu te deixo lá.
Dizendo isso passei meus braços em volta de sua cintura e comecei a caminhar em direção da parada do ônibus. Foi só acomodá-lo e ele se pegou em um sono profundo, assim eu pude fazer uma melhor avaliação do homem que ele fora e do farrapo que agora eu carregava. Pelo peso ele estava com menos de cinqüenta quilos, sujo, embarrado, sem banho, fedendo a mijo e cachaça, ali estava um trapo onde antes existia um homem nobre, fino e respeitoso. A dor que sentia naquela hora foi de raiva e ódio pelo destino desgraçado que o escolhera para aquele fim. Olhando pela janela do ônibus misturei minhas lágrimas com as gotas de chuva. Foi quando senti junto ao meu rosto seus dedos encardidos e fedidos, buscando puxar meu rosto junto ao seu. Voltei-me e ele colou sua boca junto ao meu ouvido como se quisesse me contar algum segredo.
 -Deodé,  eu já te contei que meu pai virá me buscar?
-Sim eu sei. Falei aquilo da boca pra fora, para não contrariar. Ele concluiu:
-Pois bem Deodé: É Hoje. Dito isso voltou a dormir.
Voltei meus pensamentos ao passado lembrando-me do tempo que ele era considerado um mestre da Cultura e Religião Africana, sim, ele fora um exemplo de dedicação, amor  e carinho pelos Orixás. Mas, eu me perguntava a toda hora o que dera errado para tudo aquilo acontecer? Perguntas sem respostas que nem o tempo conseguiu me responder.
Chegamos perto do fim da linha, despertei-o para que pudéssemos descer do ônibus, nossa parada estava próxima. Ele naquela calma me diz:
-Deodé, tu me leva até o Campo da Tuca.
Aceitei e desci e caminhamos um bom bocado. Quando chegamos perguntei onde era sua casa?
-Eu não tenho casa, Deodé, eu moro no mundo.
Meu Deus! Pensei: mais está!
-Deodé, tu me leva para a beira do mato, perto do campinho e me deixe ali, pois hoje tenho um encontro com meu pai Ogum, hoje ele vem me buscar.
Pensei: desta vez ele endoidou. Caminhamos mais alguns metros, ele empacou.
 -É aqui. Podes ir embora.
-Como posso ir embora Danilo e te deixar assim? Quero ficar contigo, não posso ir.
No meio daquele temporal terrível ele se pegou a conversar com as matas, com o vento, com a chuva, com os raios, e tome-lhe conversas misturadas com gargalhadas. No meio da chuva, naquele lodaçal ele dançava e cantava o canto de seu Orixá.
Onira epêê Onira epê Ogum Anirê
Onira epêê Onira epê Ogum Anirê
Ogum Onira euatauá Ogum Anirê
Olhando o relógio e vendo o adiantado da hora, eu me perguntava: será que isso tem hora para terminar? Foi quando ele apontou para a estradinha e dizendo:
-Veja, Deodé, lá vem meu pai Ogum em seu cavalo branco com sua espada na mão, ele vem me buscar. Olhe, Deodé, veja Deodé, veja Deodé, é ele meu pai Ogum.
Por mais que eu me dispusesse e por mais boa vontade que eu tivesse, a única coisa que eu via era o cavalo, e a carroça do negro Dão que voltava da Ceasa abarrotado de frutas, dirigia-se para dentro da vila. Era isso que eu via, mas ele o espiritado e visionário via seu pai Ogum que vinha lhe buscar. Pobre louco, eu ainda pensei: pelo menos é um louco feliz.
E o cavalo e a carroça foram se aproximando e quando estava bem próximo, ele saiu em louca disparada de braços abertos de encontro ao cavalo, aos gritos:
-Obrigado, meu pai Ogum, obrigado.
Tive que segurá-lo para que o cavalo não passasse por cima do infeliz. Foi quando um raio espocou sobre nossas cabeças e o cavalo empinou e com as patas apontadas para o céu relinchou. Aquilo me causou o maior susto que caí sentado de bunda no meio do barral. Os raios pipocaram no meio do temporal, eu sentado no meio do barro voltei meus olhos para o alto e então eu pude ver o grande cavaleiro, o guerreiro, aquele que nunca perdeu batalha, o detentor da obé, o senhor da guerra. Sim, ele prometera e viera cumprir sua palavra: Quando tu não puderes mais carregar tua cruz me chama, e eu virei te buscar.
Ali estava ele, Orixá Ogum Onira, o guerreiro, senhor da guerra viera buscar seu filho e acabar com aquele sofrimento. E foi o Ogum se abaixar e estender a mão e ter entre as mãos à do seu filho, negro Danilo de Ogum, firme e confiante. Foi um puxar e o trazer para a garupa do cavalo. A seguir um tropel se misturou com os raios e trovões, e o vento frio do Minuano que soprava, a névoa os envolveu dentro do breu da noite. Era capa do Orixá Ogum a cobrir aqueles dois. E assim desapareceram.
Ainda hoje as pessoas céticas me perguntam se eu vi isso tudo acontecer, no que eu respondo: isso é lenda gente, bobagem, coisa de gente espiritada, me poupem. Mas sei que existem uns poucos abnegados que acreditam, estes são os puros de coração, os que têm crença, fé, amor e devoção nos Orixás.
Quanto a mim, tenho dito e quem souber que conte outra.
Onira epêê Onira epê Ogum Anirê
Onira epêê Onira epê Ogum Anirê
Ogum Onira euatauá Ogum Anirê.

Quem não quer ter um amor assim

Ali, na divisa de Tramandaí e Imbé, na barranca do rio, morava o negro Roberto de Ogum Adiolá. Jovem bonito e faceiro, fazia graça por onde passava. Ele era muito considerado pelos moradores da vila, em sua maioria como ele, pescadores. A pesca era artesanal, dispunham de pequenos barcos para adentrarem ao mar. Ali não tinha moleza, o neguinho tinha que ser macho pêlo duro para enfrentar a barra que ligava o rio ao mar, não tinha escolha, era pegar ou largar e todos os dias colocar a vida em jogo. Saíam para o mar sem saber se iriam voltar.Para ele, um meninão de corpo atlético, em cima dos seus dezoito anos, aquilo tudo não passava de uma brincadeira, dominava o mar e tinha por ele respeito e uma certa cumplicidade. Ria ao ser perguntado se tinha medo. - Eu? Filho de Ogum Adiolá, escravo de Yemanjá, protegido por Oxalá, o senhor das águas, como posso ter medo de viver no paraíso?
Mas seus companheiros não pensavam assim, sabiam que muitos já haviam partido para os braços de Yemanjá e ali, naquela colônia de pescadores, viúvas e crianças sem pai eram testemunhas que aquilo não era trabalho digno de certeza, todo o dia era considerado o último. Sair sim, voltar? Talvez.E a lenda? Bem, a lenda conta que Ogum Adiolá, apaixonado por Yemanjá, pediu-a em casamento e, por obter um sonoro não, havia se jogado ao mar e sucumbira na sua imensidão. Ora bolas, lenda! Poupem-me das tais lendas! E mais uma lenda conta que por não aceitar um não, Ogum Adiolá passara a viver as margens do mar só para estar perto de sua amada. Lenda e mais lendas, nada além de lendas. E assim vivia o negro Roberto de Ogum Adiolá, conhecendo as lendas e estórias de Yemanjá, mas, como ele mesmo dizia: - Se eu não conheci ainda a mulher que vai gerar meus filhos, por que razão vou me preocupar em morrer no mar? Meu Pai Ogum tem o mar como pradaria onde galopa em seu cavalo branco, o mar é campo onde meu Orixá vence suas demandas, e eu navego com maestria o timão de meu barco como ele maneja sua espada.Toda a manhã lá estava ele de bermuda branca, descalço e sem camisa, trazendo no pescoço sua guia azul feita com as pedras extraídas do fundo do mar, cumprindo o ritual de ajoelhar e pedir a bênção de Yemanjá ao aventurar-se na busca dos peixes para vender no mercado, e assim, dar o sustento aos seus pais e irmãos menores.
E foi naquele ano que, durante uma festa de Yemanjá no dia 02 de fevereiro, que ele a viu no meio da procissão, carregando uma garrafa de plástico com uma vela azul dentro e cantando para Yemanjá. Era a Janaína de Yemanjá. Cabrocha, mistura de negro e branco, uma mulata de encher os olhos, boca carnuda, cabelos encaracolados, pele de um bronze dourado e olhos brilhantes... Era ela uma filha de Yemanjá, para não dizer a própria. Passou a noite toda a admirando e voltou para casa carregando uma certeza: - Esta será a mãe de meus filhos, e isso, minha Mãe Yemanjá, a dos pedidos impossíveis mas sempre realizáveis, me dará.Na segunda vez que a avistou foi numa festa de batuque. Ao vê-la ocupada pela doce Mãe Yemanjá, soube a quem pedir a realização de seu sonho. Bastava querer muito, do fundo de seu coração e fazer o pedido: casar com ela. - Ela é o meu bem querer, a quem amarei eternamente. Oxéu, minha mãe, oxéu, minha bela Iabá, Oxéu, minha Mãe Yemanjá. Assim seja.E no verão daquele ano juntaram os trapos e foram morar num pequeno casebre na vila dos pescadores, numa casinha branca cercada por Paineiras e Coqueiros que gemiam nas noites frias de inverno, época em ela poderia tê-lo por mais tempo. No verão o trabalho era dobrado, nos períodos em que era proibida a pescaria, ele trabalhava como ajudante de pedreiro e pintor.A juventude daqueles dois resplandecia de alegria e felicidade, mas, como todo jovem, tinham seus anseios: ela por um filho que demorava a chegar e ele, querendo oferecer uma vida mais digna para a sua princesa, pecava por se atirar no trabalho feito louco, deixando-a muitas vezes sozinha, num período de espera e com a solidão amargando seu coração. Um filho que não chegava e um marido sempre ausente não faziam parte de seu sonho, não desejava isso nem para a sua pior inimiga. Ele era um meninão que nas folgas do trabalho queria estar com os amigos, jogando futebol ou surfando sobre as ondas do mar, como a cavalgar o mar bravio, com a felicidade estampada no rosto e nos olhos. Ele passava dias dentro do mar e ela a caminhar pela praia, tentando se comunicar com ele através das ondas que iam e vinham a espraiar na praia sua espuma branca, molhando seus pequenos pés. Ela, uma menina a brincar com conchas e pequenos cavalos marinhos, carregava dentro do peito um coraçãozinho apertado pela saudade. Ali ela conversava com sua Mãe Yemanjá, fazia seus pedidos, comungava com seus sonhos e entoava o canto da sereia para agradar seu Orixá, sua doce iabá, sua Mãe Yemanjá.
E, numa noite de total abandono saiu e, encontrando algumas amigas, foi passear na pequena pracinha e saborear uma taça de sorvete. Foi o que bastou para as fofoqueiras de plantão deitarem falação sobre sua moral e conduta, afinal, sendo ela mulher de pescador, não era recatada e aproveitava a ausência do companheiro para passear.Pra quê! Quando o negro Roberto de Ogum Adiolá desembarcou, viu-se cercado pelas cobras a pedir: - Abre o olho, meu filho, abre o olho. Foi este quadro de horror que ele encontrou ao chegar em terra. Como quem conta um conto aumenta um ponto, o dele significava traição, sem-vergonhice e deslealdade, coisa que nunca aconteceu em sua vida e foi com tristeza que ele ouviu, calou e consentiu. Daquele dia em diante sua vida não foi mais a mesma, passou a beber e a perambular pela praia no maior desespero, a gritar: - Aonde foi que eu errei para passar por esta prova, minha Mãe Yemanjá?A bela Janaína de Yemanjá, sem saber de nada, vivia preocupada com seu companheiro, até que sua Mãe de Santo a procurou. Queria ajudá-lo, mas sentia-se sem forças e não compreendia a causa de tanta revolta. Ela também se perguntava: - Aonde foi que eu errei?E foi na mesa de búzios que ela teve a revelação e passou a conhecer as lendas de seu Orixá Yemanjá. Seu companheiro era filho de Ogum Adiolá, o Ogum apaixonado por Yemanjá, quem refutara seu amor. Mas ela, Janaína, queria este amor e tudo faria para conservá-lo, lutaria por ele e, se preciso fosse, morreria por este amor.Negro Roberto de Ogum Adiolá, o pescador, sofrendo a dor da traição, deixou-se levar pelas maldades e difamações que amarguraram seu coração. Tinha vontade de falar com ela, mas os votos de confiança mútuos não permitiam isso, seria um desrespeito ao amor conclamado. Tudo não passava de conjeturas e expô-las, seria uma afronta. “Mas um dia eu saberei a verdade, mesmo que isso me faça perdê-la”. Dúvida cruel a remoer mente e coração.Uma noite de chuva e temporal, quando os raios rasgavam o céu e o mar revolto vinha bater na praia, o negro Roberto de Ogum Adiolá, podre de bêbado, arrastou a embarcação e navegou em busca da morte, o bálsamo dos desesperados, o alivio dos corações sofridos, o alento dos oprimidos e a libertação para os que amam e sofrem a dor de uma traição.A notícia de sua ida para o mar chegou a casa de Janaína. Agora ela entendia o que a queda dos búzios havia anunciado... Então era verdade, seu companheiro sofria por uma suposta traição sua e pelo medo de perdê-la. Como uma forma de atingi-la, resolvera pôr fim a vida.
- Não, isso não está certo e vou agora mesmo resolver esta quizila. Ao abrir a porta, recebeu no corpo a golfada do vento e da chuva fria. Uma multidão de pessoas a cercaram, eram os companheiros de pesca de seu marido e um bando de viúvas desesperadas que sabiam que ele nunca mais voltaria, que o mar o havia tragado. Como o seu Chico, um pescador antigo, dizia: - As águas do mar não são árvores, por isso não possuem galho. Ali entrou, ali sucumbiu. Janaína correu até a praia e, no meio daquela tempestade, avançou mar adentro. Possuída pela revolta, queria, se possível, ir até o fundo do mar buscar seu marido, não entregaria facilmente o sentido de sua vida, viera ali para lutar e ela estava apenas começando. Gritou para sua Mãe Yemanjá: - Se eu não o trai, se eu não menti, se ele me ama, qual a explicação para tudo isso? Não, minha Mãe Yemanjá, tu não vai fazer isso comigo, não vai mesmo. Algumas pessoas ainda tentaram dissuadi-la, pedindo para que retornasse para casa e ficasse na espera de noticias. Ninguém se atrevia a enfrentar o mar. Na noite escura como um breu não se enxergava um palmo a frente do nariz, a não ser quando os raios explodiam sobre suas cabeças. Mas ela continuou firme, dali não arredaria o pé, não desistiria, era obstinada e sua Mãe Yemanjá sabia o quando ela era sincera em seu amor. Não nascera para perder, ainda mais se tratando de seu amado.Sentada na areia, cochilou. Foi quando a tempestade aplacou, o vento parou e o mar doce veio beijar seus pés. Despertou assustada, sem saber que horas eram, mas, pela fome e pela dor que remoíam seu corpo, pressentiu que passava do meio-dia. Tinha que voltar para casa e saber se os homens haviam entrado no mar para procurá-lo. Estava pensando em ir até a capitania dos portos onde as grandes lanchas faziam o socorro, quando viu um jipe aproximar-se, eram os colegas de seu marido. Eles não precisaram falar nada, traziam a reboque o barco que levara o negro Roberto para o fundo do mar. Aproximou-se e acariciou o barco, passando a mão no local onde em muitas noites de lua cheia os dois sentavam para admirar as estrelas e namorar. Constatou que o barco estava intacto, nenhum arranhão na pintura. “Se o barco está assim, é sinal que não foi a tempestade que o matou, mas sim ela, aquela maldita, que veio cumprir sua lenda e me roubar a única coisa que eu tenho na vida”.- Maldita sejas tu, minha Mãe Yemanjá. Mas tu me paga, eu não saio daqui sem o meu marido, tu tens que me devolver ele como eu te entreguei, forte e sadio, não vim aqui para buscar um cadáver. Só saio daqui com ele e nada me fará desistir, nem mesmo a morte.
As amigas falaram até cansar e finalmente, quando todos partiram para as suas casas, ela sentou e chorou, vertendo todas as lágrimas do mundo, deixando vazar o desespero e a dor que a sufocavam.“Chora, Janaína, chora que o mar vai te encantar. Chora, meu golfinho, chora que o mar vem te abençoar. Chora, Janaína, chora que o mar vem te beijar...” Assim cantou o poeta e assim caminham as filhas da mais doce das iabás, elas, as sereias de Abéokutá, a morada de Yemanjá.À noite chegou e o vento frio que soprava do mar calou fundo naquele corpo mirrado, vestido com o fino morim que nada cobria. Ela não sentiu frio nem fome, apenas o vazio da alma que buscava compreender o inexplicável, o fim inexorável da vida, o que estava escrito, a lenda, o sentido da vida.Na praia as pequenas gaivotas buscavam o alimento para seus filhinhos e retornavam para seus ninhos. Elas dividiam a praia com alguém que não tinha mais ninho, não tinha para quem retornar, a não ser para uma casa vazia e sem sentimentos. Não, ela não voltaria de braços vazios, permaneceria ali até o fim de seus dias. Sua Mãe Yemanjá não podia querer isso dela.Não aguentando mais, tombou, e seu corpo encontrou como cama a areia e as águas de Yemanjá. Ali, ela, sua Mãe Yemanjá, apareceu e lhe falou: - Eu o levei, mas não como está escrito na lenda, mas sim atendendo um pedido dele que não queria mais viver. Não vim buscá-lo, simplesmente o recebi em meu reino de Abéokutá. “Então foi assim que tudo se passou. Este infeliz não me perguntou como as coisas se passaram e me deixou sem uma explicação. Não, isso não vai ficar assim, não vou deixar como está, ele sequer me fez um filho e me abandona a seu bel-prazer”.Levantou-se e, determinada, avançou mar adentro. Primeiro entoou com todas as forças de seus pulmões e com todo o amor do mundo o canto de seu Orixá e a seguir se prendeu a gritar a dijina de sua Mãe Yemanjá, nome que recebera de sua Mãe de Santo quando de sua iniciação. Sentindo-se com a força e o poder de seu Orixá, evocou seus cavalos marinhos. Sim, onde ele estivesse os cavalos e os golfinhos o encontrariam e trariam de volta, e foi como tudo aconteceu. O mar calmo se agitou, bramiu e, fustigado pelo vento, avançou sobre ela e a engoliu, arrastando-a para o fundo. Mas ela era Janaína, a filha de Yemanjá, portanto, não cederia a sua força. No último momento abriu a boca e soltou o grito, um som que só os golfinhos conhecem, e momentos depois viu-se cercada por seus cavalos que chegaram para socorrê-la, e ela, Janaína, montou e cavalgou sobre as ondas em busca de seu amor.Na madrugada do dia seguinte, quando os pescadores iam entrar no mar, eles viram algo sair dele. Era Janaína de Yemanjá que, cavalgando seus cavalos, trazia na garupa o seu amado, negro Roberto de Ogum Adiolá, a sorrir na plenitude da felicidade. Bem, toda a lenda tem sua exceção, inclusive a que conta que Ogum Adiolá amava uma Yemanjá que não queria seu amor, motivo pelo qual o mar o havia tragado. Mas esta Janaína queria seu homem e, com sua força e obstinação, não desistiu tão facilmente, lutara e, vitoriosa, trouxera de volta o homem que lhe daria uma barriga.
Sim, esta Janaína seria conhecida por estar além da lenda. Sim, era ela, a Janaína, a filha de Yemanjá.

Leia com o coração

A briga dos Orixás e a decisão de Dona Chininha de Yansã

Naquele ano da graça do Orixá Ogum, período de guerras e demanda lutas e combates, ali na subida do Morro da Policia na calmaria da noite Dona Chininha dormia a sono solto, eram 5 horas da manhã. Na noite anterior a negra velha havia derrubado 14 quatro pés e mais de 70 aves. O povo daquela casa se preparava para uma grande festa tudo em homenagem ao glorioso Pai Ogum. Quando de repente ela foi acordada por um burburinho que vinha da rua, aquilo por si só já era um desaforo. Ela fora deitar às três horas quando acabara o serão, tinha em seu quarto de santo sete filhos de obrigação, e os demais tinham terminado suas tarefas e debandado para suas casas.
Revirou-se na cama procurando uma melhor acomodação, e assim voltar ao sono conciliador. Pensou: Isso é coisa de alguns transeuntes, logo vão embora e poderei voltar a dormir. Mas, as altercações das vozes aumentaram aquilo que parecia um grupo passando pela rua, não se sabe por que cargas d água resolveram se estabelecer em frente ao seu portão e o que parecia momentâneo tornou-se um martírio, não tendo hora para terminar.
No momento seguinte o que se seguiu foi um bate-boca infindável, intercalado por palavrões e acusações entre os contendores quer parecer de ânimos alterados, aquilo se perdeu e adentrou a casa.
A estás altura dos acontecimentos ela tinha a nítida impressão que aquele povaréu estava ali, ao lado de sua cama. Bem, aqui esgotou toda a sua paciência e só restou tomar uma atitude. Levantou-se vestiu um chambre, calçou um chinelo de dedo e foi à luta. Isso é demais para qualquer ser humano agüentar desaforo em frente a sua casa.
Deu de mão na chave e abriu a porta e saiu no terreno, às estrelas ainda cobriam o céu, noite clara como um dia facilitando a visão da rua.
Ali, na frente do pátio à direita do portão de entrada, ao lado da casa do Bará Lodê, tinha um banco deste feito de madeira bruta. Caminhou até ele sentou-se, e acomodou-se e procurou abrir bem os ouvidos, queria saber, antes de tomar uma atitude, quem eram os desaforados que não respeitam o descanso em uma casa de família.
Por educação sabia que o que se passa na rua não lhe pertencia e a demais poderia ser assunto de vizinhança e desta ela queria distancia.
Com as mãos abriu entre as folhagens um pequeno espaço para visualizar melhor a rua e poder desde modo observar os brigões. E o que foi que ela viu? Homens e mulheres, um baita povaréu no maior bate-boca, uns querendo determinada coisa e outros contrariando. A causa da discussão ela não poderia sequer imaginar, pois, não era explícita a razão determinante de tanta verborragia. Mas, que ali tinha uma contenda, isso tinha. Restava aguardar para saber qual?
Entre os mais exaltados se destacava um moço bonito, corpo atlético, beleza rara, mas de uma fúria incontida, usando belas palavras e denotando profundo conhecimento sobre leis e justiça, mais parecendo um nobre bacharel no uso da tribuna. Mas, quando contrariado soltava labaredas de fogo pela boca, e o pior carregando tira-colo um enorme machado de dois fios. Aquilo por si só já demovia qualquer intenção de se opor a suas opiniões.
Do outro lado um menino, busto desnudo, usando um saiote e tendo as costas um arco e uma única flecha. Mas, atento às palavras, era ouvinte sequioso do ilustre palestrante. Entre as mulheres uma muito da assanhada carregando uma tiara de pedras semipreciosas na cabeça, por certo jurando que era uma coroa, mas de um ímpeto a toda prova, desaforada, mandona e gritona, senhora absoluta da razão, de animo exaltada competindo na base do grito, tipo do: “Vocês sabes com quem estão falando?”.
Entre os contestadores um mais humilde parecia um gari, numa mão uma vassoura, na outra um gadanho em punho, que pouco era ouvido, qualquer palavra vinda dele era rebatida pelo grupo com estas palavras: “Tchê tu não te metes, tu será sempre o último a falar, depois de nossa decisão te entregamos quem tu vai levar”. E a negra velha se perguntava levar quem? E para onde?
À esquerda do grupo duas mulheres que choravam copiosamente, uma senhora de roupa azul, abraçada a uma moça vestida de amarelo ouro, aquilo por si só já era um contraste uma burguesa metida no meio daquela misere desgraçado. Esta ultima de minuto a minuto retocava a maquiagem. Pode? Vaidade aqui no meio da madrugada? Mas, naquele corpo de infinita beleza o ar parecia perfumado e chique. Tudo do bom, quem não gosta do bom cheiro?
Sentado na beira da calçada, tendo a mão direita apoiada em um cajado, com a cabeça coberta por um manto branco, um senhor de idade avançada pedia a todo o momento: “Calma, calma temos que ter paciência e clareza em nossas decisões”. Coisa que ali ninguém tinha. Sequer ouviam o pobre velho.
Dona Chininha ainda pensou: Mas que coisa de louco esta vila está virada num prostíbulo, onde já se viu um bando de vileiros vir bater boca em frente a uma casa de Batuque, a esta hora da madrugada. Aonde o mundo vai parar? Bem, não conheço esta gente, mas isso não vai ficar assim, tenho que tomar uma atitude.
No que se levantou para ir de encontro ao grupo estancou de vez, ao ver chegar um gaudério montado em um cavalo branco, mais parecia um capataz de estância, aparamentado feito um guerreiro, de espada e lança em punho e gritando feito um louco. Bem, aqui a porca torceu o rabo. Meu Deus do céu, de onde surgiu este qüera? O índio grosso desceu do cavalo e foi dando ordem como se o assunto em questão fosse de domínio público e fosse ele o portador da decisão final. Pode? Só me faltava esta.
A frase que penetrou fundo em sua cabeça e a deixou confusa, por ser repetida diversas vezes e usada por todos os participantes de minuto a minuto “Um deles vai! Tem que ir, e disso eu tenho a mais absoluta certeza, temos que chegar a um consenso”. Mas ir aonde? Para onde? Mas quem vai com quem?
Sim, aquilo estava mais para uma disputa entre eles que para escolha de alguém que partiria com um dos participantes. Que viagem estranha será a deste vivente. Estranha, muito estranha.
É importante salientar que até aquele momento não haviam citado um nome sequer, no meio das discussões se tratavam com os devidos respeitos, mesmo que contrariados em suas posições, mantinham certa altivez até na hora de trocar palavras mais ásperas. Dona Chininha de boca aberta observava o grupelho, passou da raiva a admiração e o melhor pretendia ajudá-los no que fosse preciso. Mas como participar sem saber a razão de tanto bate-boca?
Foi quando ela ouviu nitidamente os nomes de dois de seus filhos de santo, Antenor de Ogum Onira e Agenor de Oxalá Bocum, bem, aqui a coisa tomou outros rumos, agora era ela a mais interessada no que aqueles infelizes pretendiam quanto a seus filhos. Bem, agora botaram na mesa prá mim e eu não sou mulher de correr da raia. Quero ser ouvida e ninguém me segura, aqui vou eu.
Deu de mão no portão e escancarou de vez e foi, contudo para cima do grupo e com uma única frase abriu os debates: “vocês por um acaso estão me chamando?”. Sim, porque aqui em frente a minha casa quem canta de galo sou eu e demais a mais, ninguém vai decidir sobre a vida de meus filhos a não ser eu e meus Orixás.
Bem, agora a porca torceu o rabo e a merda pegou no tamanco e a cobra passou a fumar. Quem conhecia a negra velha sabia ela nunca botara para perder, se entrara naquela briga era para vencer.
Recebida que foi pelo grupo que abriu alas para a sua passagem, procurou ela ficar no meio da turma, queria ouvir e ser ouvida e tinha em sua mente mil perguntas e queria muitas respostas, ninguém sairia dali sem responder. Isso não, e disso ela tinha a mais absoluta certeza.
Em principio a maioria não aceitou sua participação, alguns fizeram muxoxo como a dizer: De que adianta sua participação? Ela não manda nada. Dona Chininha não esperou apresentações, foi logo abrindo o verbo.
-Meus amigos eu não conheço vocês, mas se vocês escolheram o meu portão para bater boca e resolver suas quizilas, se enganaram aqui é uma casa de religião e demais a mais, eu respeito para ser respeitada, não quero saber de bate boca em frente a minha casa, estou com filhos de obrigação. Será que nesta vila não tem lugar melhor para resolverem as pendengas de vocês?
Bem, ai pegou pesado e a negrada não afrouxou de vez, saltou a tal assanhada de coroa na cabeça e foi falando e desaforando.
-Olha aqui minha filha tu não te metes no que tu não és chamada, isso aqui não é assunto para o teu bico.
Prá que? A velha enlouqueceu e rodou a saia e se postou no meio da rua com as duas mãos na cintura, agora já tinha um oponente a sua altura postada em sua frente. E foi para ali que ela se dirigiu com toda a sua força. Resolvera pegar pesado com a tal exibida. E foi com tudo prá cima:
- “Olha aqui guria, quem tu pensa que tu és para me desaforar”. Tu por um acaso sabes com quem tu estás falando?
Aquilo dita cara na cara, olho no olho ali na cara limpa era de arrepiar quem assistiu. Meu Pai! Oxalá tende piedade de todos nós, isso não vai terminar bem.
Foi quando a tal metida avançou na direção de Dona Chininha disposta a meter a mão na cara, no que o tal bonitão saltou na frente e pediu:
- Te acalma guria quem sabe ela pode nos ajudar.
- Mas ela esta me afrontado e isso não podem ficar assim.
- Agora o bicho vai pegar foi o que falou o mais velho.
Dona Chininha aguarda sua resposta ansiosa e repete a tal pergunta:
- “Tu sabes com quem tu estás falando guria?”.
Prá que? A guria endiabrada salta na frente e contra põe uma resposta:
-E tu minha querida por um acaso sabe com quem tu ta te metendo? Socorro agora isso foi longe demais.
E Dona Chininha lascou de pronto:
-Eu estou falando com uma guria metida à besta que não respeita os mais velhos.
Prá que! A louca avançou e abraçou Dona Chininha e grudada nela foi em busca das orelhas da negra velha e ali falou o que queria e o que não queria, mas uma frase nunca sairia da mente de Dona Chininha para o resto de sua vida. Sim o que ela ouviu e rasgou sua orelha e explodiu em sua mente e transpassou sua alma, queimando feito ferro em brasa, foi à frase pequena, sucinta e decisiva:
“Eu sou tua mãe Yansã Oiá Dirãn”.
Por meu Pai Oxalá! Tende misericórdia de todos nós.
A negra velha caiu de joelhos prosternada perante a criatura e bateu cabeça ao reconhecer aquela há quem horas antes tinha sacrificado em seu nome e perseverado por toda uma vida. O mais velho vendo o ato de comoção da qual a negra velha se viu envolvida, abraçou-a e beijando suas mãos ajudou a sentar no meio-fio alguém que não se sabe de onde alcançou um copo de água que foi bebido de sôfrego. O que dizer numa hora desta? Sei lá isso é coisa dos Orixás e eles sabem o que fazem, eu fora.
Refeita do susto Dona Chininha mantinha duas pergunta em sua cabeça: Afinal o que eles querem aqui em frente a minha casa e qual a razão de tanta discussão?
Mas isso não precisou perguntar por que a resposta veio queimando feito fogo em brasa e que desceu pela garganta e se alojou na boca do estômago. Eles estavam ali para levar um dos filhos de dona Chininha, um deles partiria para Órún, a razão de tanta disputa, era que alguém queria contrariar ordens superiores, um dos que viera buscar e acompanhar o despachado entendera errado o nome da criatura, o que causou grande reboliço entre os demais a tal desinformação.
O tal desinformado tentando se justificar largou a celebre frase: “Eu pensei”. Bem, ai já é demais querer pensar sobre ordens supremas. O tal do machado largou na frente e entre labaredas de fogo desaforou: “Pois tu fiques aqui sabendo, que tu não és mandado para pensar, tu és enviado para executar, o pago para pensar sou eu” Por meu Pai Xangô! Tende piedade de todos nós.
Refeita dos traumas Dona Chininha resolveu ajudar.
-Meus Pais quem sabe eu possa ajudar?
O grupo todo voltou os olhos para ela que cabisbaixa e muda aguardava a resposta. Afastaram-se para fazer uma pequena reunião do assunto em pauta e falando a boca pequena e cochichos ao pé do ouvido confabularam e retornaram ao encontro dela e passaram a decisão aos critérios dela, afinal a mãe de santo ali era ela é mais ninguém.
Ficou ao encargo do mais velho, aquele senhor do cajado expor a situação e o dilema que todos se encontravam.
Começou ele por palavras de doçura e meiguice, no que dona Chininha declinou ponderando: O senhor não me poupe estou preparada para ouvir a verdade, nada mais que a verdade.
-Bem, minha filha um dos teus filhos vai subir acompanhada do Orixá dele, estudávamos a decisão final, mas como tu decidistes participar resolvemos que fica seu critério escolher qual deles vai embora.
Por meu Pai Oxalá! E agora? Que decisão cruel, que fatídico dilema.
Para tanto devemos antes analisar cada um dos pretensos viajantes como se fossemos um gerente de recursos humanos, analisando o currículo dos postulantes a um cargo ou promoção, neste caso a viagem final de suas vidas.
Aqueles dois a estas alturas da madrugada, embalado em seus belos sonhos e fantasias, nos braços de Morfeu. Mal sabiam eles que sua hora havia chegado.
O primeiro: Antenor de Ogum, pai de seis filhos, fruto dos diversos relacionamentos, e uma dúzia de netos. Era viúvo e de sua vida tudo que se sabia era que tivera diversos enroscos, nunca dera certo com ninguém, talvez pelo maldito víçio da cachaça e por não ser chegado no trabalho, era um turista a passeio neste mundão sem fronteira, nunca valorizou nada e nada tinha muita importância, a não ser o sabor pela vida. Era considerado mestre do Batuque, pelo conhecimento dos fundamentos e na arte no trato com o sagrado e magia dos Orixás. Agora que não tinha mais forças para o trabalho braçal, vivendo de uma pensão miserável, encontrando dificuldade para sobreviver, viera dar com os costados na casa de Mãe Chininha e passara a morar de favor numa pequena peça nos fundos da casa.
O segundo: Agenor de Oxalá era um jovem solteiro e de futuro promissor tanto dentro do Batuque, bem como na medicina, viera do interior e encontrara na casa de Mãe Chininha o apoio para estudar e se dedicar para a religião. Era bom filho de Santo, dedicado e perfeccionista via no Batuque o caminho que tanto procurava e que naquela casa finalmente encontrou. Não tinha nada que o desabonasse.
Mas para dona Chininha todos os filhos de Santo eram iguais, amava-os indistintamente e vivia em função da vida deles, esquecendo a sua.
E agora? Fazer o que? Dizer o que?
Quem escolher?
Mas a vida tem seus mistérios que a própria razão desconhece e ali estava ela tentando entender a complexidade do destino e o porquê os Orixás colocam às vezes seus filhos em caminhos que só a emoção e o coração podem decidir esta era uma. Caberia ela a decisão.
Por meu Pai Oxalá! Daí me a tua orientação e encaminhação nesta hora tão difícil.
Mas, não, ela sabia que em sua decisão final estaria sozinha, ninguém poderia ajudá-la e sua escolha teria de ser de caráter irrevogável. Um de seus filhos teria que partir.
E agora José?
E foi assim que ela pediu licença aos amigos e voltou para dentro de sua casa dirigiu-se para o seu Quarto de Santo e ali ajoelhada clamou para que Pai Xangô não a julgasse por sua escolha e proferiu o nome do escolhido.
Levantou-se e voltou à rua e encontrou todos reunida a sua espera, cercada que foi anunciou o nome do filho que ia partir.
Pareceu-me que não houve surpresa, pois, todos aceitaram na maior calmaria o que fora decidido.
E foi assim que naquela noite partiu o menino Agenor de Oxalá Bocum.
Não me pergunte o porquê e nem a razão, porque desconheço e mesmo que soubesse não responderia por que isso quer me parecer pertence ao sagrado, ao mistério intrínseco do universo dos Orixás.
E dona Chininha que teve a decisão e a resposta daquela noite, anos depois teve a sua missa de Arissum feita pelo seu filho mais velho o mestre Antenor de Ogum e seu amigo e fiel escudeiro João Carlos de Odé.
E tenho dito e quem souber que conte outra.

Histórias de orixas

Que sua docura recaia sobre seus filhos,que o amor esteja sempre presente em nossos corações

OXUM

Grande Mãe, Senhora do amor, do ouro, e da beleza, Orixá da fertilidade, que traz em seu axé (força) a riqueza, é Ela que nos acalenta nas nossas dificuldades, principalmente as amorosas e financeiras.
Elemento: Rio e Cachoeiras
Domínio: ouro, amor....

Cores: amarelo

Saudação: Ora eieuô
Dia: Sábado

As entidades falangeiras de Oxum, geralmente femininas (há também entidades masculinas, mas são raras), incorporam com uma particularidade interessante: muitas vezes vêm chorando.
Incorporam de pé e movimentam as mãos com as palmas para cima, a altura da cintura. Emitem um choro sentido e prolongado. Gostam de trabalhar com copos d'água nas mãos, com o que "descarregam" o ambiente.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os Doze Direitos da Mulher Segundo a ONU...

Lei Maria da Penha

Veja seus direitos ou disque 180,190,191 não se cale a esse ato de covardia!!!!!!!!

Violência Doméstica, não pactue com essa covardia!!!

Violência Doméstica, não pactue com essa covardia!!!

Video Clipe "Rosas" Atitude Feminina

Violencia Domestica Contra a Mulher

Até quando vamos aguentar isso cuidamos dele nos ,amamos e eles nós trata como bicho como se fose-mos propriedade.DiGa não aviolência.

Cenas de estupro

estupro, cenas reais!

Violência contra mulher em Pernambuco

Um mau que ainda asola as mulheres

Esteja bem informado

BBB 11 - Diogo chupa a língua de Paula durante Festa Fusion (29.01.2011)

olha o Diogo fala mau da gordinha mais na hora de pegar ñ pensa duas vezes.
que putaria esse bbb11

BBB 11 - Paula (Jabulani) beija na boca de Cristiano durante Festa (27.0...

BBB 11 DIANA FESTA DE SABADO 29 DE JANEIRO 2011 ROLOU DE TUDO

Rodrigo chupa Talula -BBB11

Filha de Xuuxa...

Photoshop CS3 - Transformação Xuxa

Ambição Perigosa - A Morte De Xuxa!

Maria Rita - Não deixe o samba morrer

Maria Rita "Num Corpo So"

Maria Rita com Quinteto em Branco e Preto - "Num Corpo Só" - Trama/Radio...

Maria Rita - Tá perdoado

Cartas Consoladoras Psicografia Contato (12) 31574565

Ultima psicografia de Chico Xavier

Chico Xavier, Nair Belo (psicografia do filho)

2ª Psicografia - Mariana Moreira Malaspina!

Mediunidade nas crianças - Menina ouve a irmã que morreu